Um dia iremos conduzir sobre algas e as estradas irão autocurar-se

ZAP
Óleo de algas microscópicas dá origem a um asfalto mais resistente à humidade, aumenta a flexibilidade e reforça o comportamento de “autocura” do asfalto. Também promete o abandono do carbono.
O asfalto que cobre estradas, ruas, pistas de aeroportos, ciclovias e até telhados tem um denominador comum: nasce do petróleo. Embora seja um material relativamente barato, flexível e reciclável, é também vulnerável a extremos de temperatura e à humidade, o que acelera a degradação e obriga a reparações frequentes.
É neste contexto que surge uma proposta inesperada: substituir parte do aglutinante tradicional por óleo de algas microscópicas, que dá origem a um asfalto potencialmente mais resistente e mais sustentável, avança a National Geographic.
O asfalto convencional é composto, em média, por 5% a 10% de betume e por 90% a 95% de agregados, como cascalho, areia, pedra triturada ou pó mineral. Para melhorar o desempenho, podem ser adicionados modificadores, como borracha reciclada, antioxidantes ou fibras.Mas mesmo assim há limitações: o calor e o frio afetam a sua elasticidade e a água favorece fissuras e buracos.
Uma equipa de investigadores liderada por Elhan Fini desenvolveu recentemente um aglutinante elástico e sustentável feito de óleo de algas, apresentado como alternativa parcial ao ligante derivado do petróleo. Segundo o investigador, compostos de origem algal podem melhorar a resistência à humidade, aumentar a flexibilidade e reforçar o comportamento de “autocura” do asfalto.
Segundo o estudo publicado em novembro na ACS Sustainable Chemistry & Engineering, os cientistas recorreram a modelos computacionais e analisaram óleos de quatro espécies de algas, à procura de opções compatíveis com os componentes sólidos do asfalto e capazes de manter desempenho em condições de congelamento.
Uma microalga destacou-se: a Haematococcus pluvialis, uma espécie verde de água doce. O seu óleo mostrou maior resistência à deformação permanente em simulações de tráfego e melhor proteção contra danos associados à humidade, a grande culpada pela formação de buracos nas estradas.
Em ensaios com cargas repetidas e ciclos de congelamento-descongelamento, o asfalto enriquecido com algas apresentou melhorias até 70% na recuperação da deformação face ao asfalto tradicional.
Os autores estimam também que substituir apenas 1% do aglutinante fóssil por material derivado de algas poderia reduzir as emissões líquidas de carbono do asfalto em 4,5%. Com uma substituição na ordem dos 22%, o pavimento poderia, em teoria, tornar-se neutro em carbono.
A ideia entra num ecossistema mais amplo de alternativas: misturas com plásticos reciclados ou borracha de pneus, pavimentos modulares ou betão para tráfego intenso, além de misturas “mornas” ou “frias” que consomem menos energia. Mas o asfalto à base de algas, se confirmar viabilidade técnica e económica, promete um raro equilíbrio entre durabilidade, manutenção mais baixa e ganhos ambientais.
In NOTÍCIAS ZAP
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