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Construção Circular

30/09/2022 Por

O setor da construção é uma atividade estruturante para a economia de qualquer país.

Embora este facto pareça hoje uma evidência, tempos houve em que foram feitos esforços para reduzir e secundarizar a construção face a outras atividades.

A ação transformadora desta indústria introduz melhorias e progressos na sociedade nas mais diferentes vertentes, desde a habitação à mobilidade, passando pela agricultura, outras atividades industriais, serviços e turismo, apenas para referir alguns exemplos.

Contudo, a cadeia produtiva que induz estas alterações tem efeitos igualmente impactantes a nível ambiental.

Face a estas constatações, é por um lado indiscutível a importância do setor da construção mas, por outro lado, é também imperativo repensar os processos da sua cadeia de valor de modo a que sejam produzidos os mesmos ou melhores resultados de forma mais sustentável.

Os objetivos para a sustentabilidade na indústria da construção são exigentes, abrangentes e assentam em diferentes dimensões, como sejam:

– a vertente ambiental, onde os objetivos de neutralidade carbónica, eficiência no consumo de energia e redução da extração de matérias primas e consumo de água são estruturantes;

– o uso eficiente de recursos, através da introdução de práticas mais circulares que permitam, por um lado, reutilizar e reciclar produtos, materiais e resíduos e, por outro, conceber novos produtos mais eficientes e mais aptos para a desconstrução e reutilização;

– a capacitação para alcançar melhores desempenhos com menos recursos sem com isso elevar os custos, e;

– proceder à transição digital como instrumento de eficiência, de competitividade e potenciador das metas previstas nas outras dimensões.

Neste contexto, a Comissão Europeia publicou recentemente uma Comunicação (COM(2022) 289 final), a 29 de junho, designada “Relatório de Prospetiva Estratégica 2022 – A geminação das transições verde e digital no novo contexto geopolítico”.

Embora tenha um âmbito mais abrangente, o momento de publicação deste documento não poderia estar mais alinhado com o tema desta edição da Construção Magazine.

A eleger-se a Construção Circular como tema, o objetivo foi olhar para todas as dimensões da sustentabilidade da construção e, de um modo especial, para como a transição digital pode alavancar o cumprimento de metas nas vertentes ambiental e do uso eficiente de recursos.

O mecanismo EEA Grants é um dos mais ativos na prossecução de muitos destes objetivos, com um foco especial em algumas candidaturas do Programa Ambiente.

Deste modo, convidamos todos os leitores a olhar as EEA Grants como um todo, a sua história, os seus eixos estratégicos, contributos para a estratégia nacional, expectativas dos países doadores e perspetivas sobre o próximo quadro de Relações Bilaterais.

Esta perspetiva abre portas para os artigos onde se apresenta, numa perspetiva mais técnica, um balanço dos projetos ao abrigo do Programa Ambiente, seguindo-se de artigos que focam dois projetos financiados por esse programa em duas dimensões distintas, uma mais associada às tecnologias de construção/uso eficiente de recursos e outra mais relacionada com a transição digital como facilitador para a circularidade.

É neste contexto que a APCMC – Associação Portuguesa dos Comerciantes de Materiais de Construção apresenta a sua visão e faz um ponto de situação dos projetos em curso.

A capacitação para a economia circular requer, por parte de todos os agentes envolvidos na cadeia de valor, visão, compromisso e competências. Por isso, não poderíamos deixar de publicar uma reflexão sobre as mesmas por parte de uma das entidades mais ativas e envolvidas em projetos do EEA Grants que pertence a um dos países doadores, a Universidade de Trondheim.

As dimensões da sustentabilidade e os desafios associados à simbiose das transições verde e digital são e serão cada vez mais temas centrais no setor, não só pela sua importância estratégica mas sobretudo pelos impactos transversais e mudanças que trarão nas ações dos agentes e nos processos envolvidos em toda a cadeia produtiva desta indústria. Que esta edição da Construção Magazine seja, em alguma medida, uma ajuda nestas transformações. Votos de boa leitura!

Autoria: Humberto Varum, Diretor da Construção Magazine / Professor na FEUP em colaboração com Pedro Mêda, co-editor da Construção Magazine nº 110.

In Construção Magazine
(para ver o artigo original, clique aqui)