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Mudanças climáticas: o que está Portugal a fazer para cumprir com a sua parte?

24/01/2019 Por

As alterações climáticas já não são uma questão de opinião. Elas estão aí e todos os dias podemos comprová-las através das muitas mudanças que ocorrem um pouco por todo o planeta. Mas aquilo a que hoje assistimos é apenas o começo de algo com o potencial para criar problemas à sociedade moderna de maior gravidade. Aliás, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) avisou recentemente: temos 12 anos para mudar a forma como lidamos com o planeta e diminuir em 45% as emissões de CO2, ou corremos o risco de caminhar em direção a uma catástrofe ambiental.

Em 2015, 195 países assinaram o Acordo de Paris, onde se comprometeram a tomar medidas no sentido de diminuir as emissões de CO2, exatamente para limitar o aumento da temperatura em 1,5º C. Pode parecer pouco, mas é a diferença entre assegurar a vida tal como a conhecemos e ter problemas como secas cada vez mais severas, falta de água em vastas zonas do globo, falta de comida onde até agora esta era abundante e zonas do planeta completamente inabitáveis – como é o caso do Médio Oriente.

Portugal está entre os países que ratificaram o Acordo de Paris. Olhando para o nosso dia a dia, contudo, não parece haver grandes mudanças de 2015 para cá. O que está, em concreto, o país a fazer para honrar o Acordo de Paris? O que está Portugal a fazer para garantir que cumprimos com a nossa parte no que toca a evitar a catástrofe ambiental? Contactámos o Ministério do Ambiente para nos responder às muitas dúvidas que temos a este respeito.

É essencial parar com a desflorestação mundial para mitigar os efeitos das mudanças climáticas.

Transportes
O Governo diz que o setor dos transportes é responsável por 24% das emissões de dióxido de carbono do país, pelo que está a envidar esforços para cortar emissões aqui. Foram referidas novidades como a diminuição de viagens desnecessárias através da promoção do teletrabalho, ou a valorização dos mercados municipais nos centros urbanos como forma de evitar movimentações desnecessárias. Há também o apoio à modernização do setor do táxi, através do Fundo de Transporte de 750 mil euros para apoiar a compra de veículos elétricos. No entanto, até recentemente a procura por parte dos profissionais para modernizar os seus carros foi residual.

Ainda no lado dos transportes públicos, há um investimento em autocarros elétricos (72) e autocarros movidos a gás natural (438). Ainda recentemente, a associação ZERO emitiu um comunicado chamando a atenção para o facto de que o gás natural não é a solução para descarbonizar a economia, dado que este tipo de combustível emite poluentes tal como a gasolina, e é um combustível fóssil. Tendo em conta esta informação, seria preferível ver este número invertido, com a aposta a ser nos autocarros elétricos e não nos modelos movidos a gás natural comprimido.

O SECTOR DOS TRANSPORTES É RESPONSÁVEL POR 24% DAS EMISSÕES DE CO2 EM PORTUGAL

O Ministério do Ambiente menciona, ainda, o projeto U-Bike, que promove o aluguer de longa duração de bicicletas em estabelecimentos do Ensino Superior. Para tal, já foram assinados 12 protocolos de parcerias, para um total de 2474 bicicletas, 65% das quais elétricas. Ainda no que toca a bicicletas, o Governo está também a apostar na expansão da rede de ciclovias em todo o país, através do projeto Portugal Ciclável 2030, que prevê a ligação de vias entre municípios. Mas este é um investimento a longo prazo, e que deverá estar concluído só daqui a 12 anos.

É preciso incentivar o uso de bicicletas através de medidas que tornem as cidades mais amigas das pessoas e dos ciclistas.

 Veículos elétricos
Para 2019, mantêm-se os incentivos à compra de veículos elétricos (VE). O fundo para o próximo ano é de três milhões de euros. Apesar de ser positivo ver o Governo a incentivar a compra destes veículos, há um problema que ninguém parece ter discutido ainda: este apoio só permite a compra de um VE a quem já o podia fazer à partida.

Os VEs têm um custo inicial de aquisição ainda muito superior ao dos veículos mais comprados pelos portugueses. O carro mais vendido em Portugal continua a ser o Renault Clio, cujo modelo de entrada de gama tem um custo de cerca de 14 600 euros. O Renault Zoe, o carro elétrico campeão de vendas na Europa e um dos mais acessíveis, tem um preço de entrada de quase 28 mil euros. É uma diferença substancial, que faz com que o Zoe e outros carros elétricos fiquem fora do alcance de muitas bolsas.

SERÃO INSTALADOS MAIS 404 POSTOS EM MUNICÍPIOS QUE ATUALMENTE NÃO DISPÕEM DE INFRAESTRUTURA

Talvez a solução para este problema passe por encontrar outras formas de acelerar a transição para veículos elétricos, formas que permitam a compra destes veículos por parte de quem não tem como pagar os preços altos dos atuais modelos elétricos.

Há ainda outra questão que está a afastar os portugueses dos VEs: a rede pública de carregadores. A este propósito, o Governo diz que existem 550 postos normais e 59 postos de carga rápida em território nacional. No entanto, basta ouvir os utilizadores de VE para perceber que as queixas sobre postos inoperacionais e postos em mau funcionamento são a norma. E quando funcionam, não são suficientes para atender às necessidades dos atuais utilizadores, que já superam o número de postos. A verdade é que a falta de infraestrutura é uma forma de desincentivar a comprar de um VE, e enquanto assim for não haverá pessoas dispostas a comprar um carro que não terão como “abastecer”.

A este propósito, o Ministério do Ambiente indica que está em curso o projeto de expansão da rede a todo o território nacional, e que serão instalados mais 404 postos em municípios que atualmente não dispõem de infraestrutura. Também é de esperar que, com o início dos pagamentos nos carregadores rápidos, haja uma expansão de postos de carregamento por iniciativa privada.

Além do elevado preço, um dos grandes entraves à compra de veículos elétricos em Portugal é a falta de infraestrutura para recarregar este tipo de veículos.

Carros a combustível deixam de ser vendidos em 2040
O Ministério do Ambiente disse ao GreenSavers que o país é um dos fundadores, e preside, à Aliança para a Descarbonização dos Transportes, e que subscreveu também a Declaração de Birmingham que reforça a prioridade dos veículos com zero emissões. Neste âmbito, a partir de 2040 vão deixar de ser vendidos veículos novos a combustível fóssil. Todavia, ficámos sem saber se há uma solução pensada para os veículos a combustíveis fósseis que já estão na estrada. Uma potencial solução seria agilizar a burocracia em torno da conversão de carros a gasolina e gasóleo para carros elétricos. Já existem empresas que fazem este serviço, mas a pouca procura e a burocracia significam que estas conversões são muito dispendiosas e morosas.

Até ao final do ano, o Executivo deverá apresentar, também, o Roteiro da Neutralidade Carbónica, onde serão traçadas as trajetórias para que cada setor (Transportes, entre outros) vá reduzindo as emissões até à meta de 2050.

E o resto?
Tínhamos muito mais perguntas que queríamos ver respondidas, mas o Ministério do Ambiente não nos conseguiu responder em tempo útil. De fora, ficaram temas como a possibilidade de usar postes de iluminação públicos para servir de pontos de carga lenta para VEs, a razão pela qual se veem tantos veículos fumarentos na estrada, quais os planos para a produzir energia recorrendo ao Sol – incluindo a possibilidade de tornar obrigatória a instalação de painéis fotovoltaicos em todos os novos edifícios, para colmatar boa parte das suas necessidades energéticas sem recorrer à rede –, entre outras questões.

Enquanto as grandes soluções não se materializam, existem muitas pequenas soluções que estão na nossa mão, como usar mais o transporte público e a bicicleta, comprar menos e apenas o que necessitamos, ou escolher uma solução de energia elétrica renovável. O futuro do planeta depende de todos nós.

Artigo do Site da Greensavers (clique aqui)